PREGADORES CUIDADO !!!!!!!!!!!!!!!!
A palavra de Deus afirma que "a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela
palavra de Deus" (Rm 10.17). Como é possível, então, que surjam
dificuldades quando esta palavra é proclamada?
O problema não está na palavra em si, porque 2a palavra de Deus é viva e
eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até
ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração" (Hb 4.12).
O problema não está na Palavra de Deus, mas em sua proclamação, quando
feita por pregadores que não admitem suas imperfeições homiléticas
pessoais! Atualmente, as dificuldades mais comuns da pregação bíblica
encontram-se nas seguintes áreas:
Falta de preparo adequado do pregador. Na maioria das vezes, a pregação
pobre tem sua raiz na falta de estudo do orador. Muitos julgam ter condições
de preparar uma mensagem bíblica em menos de seis horas, sem o árduo
trabalho exegético e estilístico. Pensam que basta ter um esboço de três ou
quatro pontos para edificar a igreja, ou acham suficiente manipular as Quatro
Leis Espirituais para levar um indivíduo perdido à obediência a Cristo.
Falta de unidade corporal na prédica. Os ouvintes do sermão dominical
perdem o interesse pelo recado do pastor quando este apresenta uma
mensagem que consiste numa mera junção de versículos bíblicos, às vezes
até desconexos, pulando de um livro para outro, sem unidade interior, sem um
tema organizador. A falta de unidade corporal na prédica leva o ouvinte a
depreciar até a mais correta exposição da Palavra de Deus.
Falta de vivência real do pregador na fé cristã. O pior que pode acontecer ao
pregador do evangelho é proclamar as verdades libertadoras de Cristo e, ao
mesmo tempo, levar uma vida arraigada no pecado e em total desobediência
aos princípios da Palavra de Deus. Por isso, Paulo escreveu: "... esmurro o
meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não
venha eu mesmo a ser desqualificado" (1 Co 9.27).
Em outras ocasiões, o pregador talvez esteja vivendo em santificação, mas,
ainda assim, quando suas mensagens são apresentadas de forma muito
teórica, empregando termos técnicos, latinos e gregos que o povo comum não
entende, elas se tornam enfadonhas. No fim do culto, o rebanho admite que
seu pastor falou bem e bonito, mas se queixará de não ter entendido nada.
Falta de aplicação prática às necessidades existentes na igreja. Muitas
mensagens são boas em si mesmas, mas se tornam pobres na prática, na
edificação do povo de Deus. Constituem verdadeiros castelos doutrinários,
mas não mostram como colocar em prática, de maneira viável, o ensino da
Palavra de Deus, negligen-ciando, por exemplo, oferecer ajuda concreta a
uma senhora que, após 35 anos de vida conjugal feliz, perdeu o esposo num
acidente de trânsito, na semana anterior.
Falta de equilíbrio na seleção dos textos bíblicos. A maior parte das
Escriturasfoi praticamente abandonada na pregação eficiente do evangelho.
Mais de 95% dos sermões evangélicos pregados no Brasil baseiam-se no Novo
Testamento e, em geral, limitam-se a textos evangelísticos, tais como: Lc
19.1-10; Jo 1.12; 3.16; 14.6; Rm 8.28; 2 Co 5.15-21 etc.
Prega-se a verdade, mas não toda a verdade! O alvo do apóstolo Paulo era
pregar "o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo" (Ef 3.8).
É bom lembrar que os apóstolos, e com eles a primeira geração da igreja
primitiva, utilizavam quase sempre o Antigo Testamento. Eles baseavam suas
mensagens naqueles 39 livros, que constituem mais de dois terços de nossa
Bíblia atual.
Falta de prioridade da mensagem na liturgia. O culto teve início pontualmente
às 19h30, com um belo programa musical seguido de muitos testemunhos
empolgantes, várias orações e diversos avisos. Finalmente, às 21h30, quando
toda a congregação já estava cansada, o dirigente anunciou: (Vamos agora
para a parte mais importante de nosso culto. Com a palavra, nosso pastor,
que vai pregar o santo evangelho). O pastor, então, fica constrangido de
pregar 40 minutos, pois sabe que ninguém irá agüentar.
A característica principal de um culto evangélico é a pregação da palavra de
Deus.
Números especiais bem ensaiados, testemunhos autênticos, avisos, tudo isso
é útil e necessário, desde que em seu devido lugar. Devemos zelar para que
nossos cultos não se tornem festivais de música popular ou reuniões para
avisos, mas, sim, encontros com Deus em Sua palavra! Lutero era muito
enfático em afirmar que, onde se prega a palavra de Deus e são ministrados o
batismo e a ceia, é ali que se encontra a verdadeira igreja.
Falta de um bom planejamento ministerial. "O pregador eficiente tem de
planejar sua pregação com antecipação. Muitos pastores falam sem nenhum
plano ou pro-pósito. Eles simplesmente decidem, a cada semana, quais os
tópicos para os ser-mões do domingo seguinte. Algumas vezes, a decisão é
feita na sexta-feira ou no sábado. A pregação sem um plano de longo alcance
produz diversos resultados negativos:
1. O pregador é colocado sob tensão e ansiedade desnecessárias;
2. Muitos pastores simplesmente pregam os mesmos sermões, domingo após
domingo. Eles escolhem um texto novo, mas, no fim, o conteúdo acaba sendo
idêntico ao daquele outro velho sermão;
3. Outras vezes, o pregador tem uma idéia boa para um sermão, mas não dá
tempo para que ela se desenvolva; e
4. Aqueles que não planejam sua pregação, geralmente cedem à tentação do
plágio." P. H. Kelley, Mensagem do Antigo Testamento Para os Nossos Dias
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O bom pregador deve fazer um planejamento anual, incluindo mensagens
para os dias especiais (Natal, Páscoa, aniversário da igreja etc.). Dessa
forma, ele alimentará a seu rebanho com uma dieta sadia e balanceada.
Outros motivos que resultam em problemas para a homilética. Além das
dificulda-des já mencionadas, devemos lembrar que a pregação vem sendo
desvalorizada pela secularização que atinge nossas igrejas. Muitas famílias
preferem assistir ao "Fantástico", em vez de ouvir uma mensagem
simplesmente exortativa e moralista.
Há também a questão da grande diversidade de igrejas e pregadores
evangélicos, o que facilita à família recém-chegada optar entre o pregador
eloqüente e popular e a igreja com status. Além disso, o estresse do dia-a-dia
faz com que, mesmo no domingo, não haja mais o sossego necessário para
reflexões espirituais profundas.
(Rio de Janeiro: JUERP, 1980), pp. 10-11.